#16 quando você ler essa carta, o melhor estará por vir
eu já vou ter entrado na melhor fase da minha vida.
esse email pode estar longo, clique aqui para ler no navegador, caso queira.
quando eu era criança, eu tinha certeza de que a vida seria mais, seria maior.
eu não precisava saber como, eu sabia que seria. então a pequena menina dentro de mim, ao ouvir a astróloga descrevendo meus anos de glória depois dos 32, puxava a barra da minha camisa e dizia “viu? eu sabia!” — “eu sabia” nenhum comentário poderia ser mais virginiano.
enquanto eu me desenvolvi entre o lado mais profundo e assustador do meu ser, e o lado solar e objetivo (um pouco Vandinha1, um pouco Pollyana Moça2), essa convicção de que o melhor estaria por vir me sustentou (acho que o nome disso é fé).
nessa primeira leitura de mapa astral, em todas as outras, e quando eu decidi ser minha própria astróloga e aprender a linguagem do céu, estava ali escrito: 32 é a idade do meu sucesso. um ciclo novo com algo misterioso, concreto e diferente das primeiras décadas da minha vida. muitas metáforas foram utilizadas para me explicar que aos 32 entro em uma era “escorpiônica3”. uma coisa que nunca entendi, por já me achar tão aliançada com os mistérios do oitavo signo (o que mais poderia vir?).
o que importa aqui não é a aula de astrologia, mas o impacto de ter uma promessa de futuro me guiando todo esse tempo, percebe? me senti presenteada com isso, e mesmo sabendo que ninguém pode me garantir o que o destino reserva, sei que fui mais grata, feliz, atenta, sortuda, amorosa e forte por conta disso.
então quero te emprestar algumas percepções, pequenas chaves, e miudezas que encontrei nesse caminho. talvez meus insights acendam insights em você.
AVISO: no Sendo eu faço tudo o que posso para não oferecer conselhos não solicitados. então por mais que minha linguagem seja imperativa e convicta, saiba que o que eu mais desejo é que você faça o que fizer sentido pra você. sei que em outros contextos, sou a professora e neles o meu trabalho é ensinar. aqui nessa newsletter, meu trabalho é criar, compartilhar, inspirar… qualquer outra coisa. então leia como quem escuta a conversa da mesa ao lado, ok? não como quem senta na primeira mesa em frente a professora.
a identidade
“quem sou eu?” é uma pergunta que nos fazemos o tempo todo. buscamos as respostas de maneiras diferentes ao longo da vida. quem eu sou dentro da minha família. quem eu sou na minha escola. o que a cor do meu fichário diz sobre quem eu sou. sou um pouco os lugares que frequento e sou MUITO as playlists que crio. sou uma casa de Hogwarts, sou team Edward ou Jacob (Jacob). sou loira, morena, asiática. sou minha profissão, sou minha religião, sou um time de futebol. sou namorada, esposa, mãe, mãe solo, segunda esposa, madrasta, amante. sou cat person ou dog person. sou de esquerda, de direita, odeio política. o que essa mensagem de texto diz sobre mim? o que meu lixo diz sobre mim caso o zelador veja? o que o dinheiro que eu tenho diz sobre quem sou? o que um completo estranho na internet pensa sobre mim define quem sou eu?
a crise é contínua e ancestral.
o que eu posso te dizer sobre quem você é, é que você é aquele tipo de livro tão denso que muitas pessoas só vão entender quando fizerem um filme e mudarem muitas partes para ficar mais comercial. e as pessoas farão isso, pegarão tudo o que você é, resumirão em 1h30, e a Sydney Sweeney interpretará você. ao longo dos anos, esse livro será rabiscado, sublinhado, desenharão em suas páginas. na vida moderna, é comum que livros complexos como você sejam preenchidos de panfletos, anúncios, menus de restaurante. alguns recibos de compra vão acabar aí dentro também. mas haverão cartas de amor no meio das suas páginas, guardanapos beijados e fotos analógicas de viagens que mudaram sua vida. você vai ser aclamada e criticada pelo que vai escrevendo nesse livro. tem gente que vai te achar pesada demais pra carregar. tem gente que vai ficar com a versão de bolso. tem gente que vai tentar baixar o pdf gratuitamente na internet (a essas, desejamos que baixem junto um vírus). mas nada disso importa. porque 5 ou 6 pessoas vão ler o livro enquanto ele é escrito em tempo real, se você deixar. e vão amar, cada uma vai ficar com um pedaço que nem você (a autora) saberia que tocaria o coração de alguém. algumas pessoas (com sorte e, com a minha insistência, você será uma delas) precisarão de ajuda profissional para entender, como um estudo do livro — chamo isso de fazer terapia. você escreve quem é todos os dias, não como quem narra uma história, mas como quem se surpreende com as palavras vertendo na página em branco. descobrir quem você é é muito mais sobre ignorar todo o resto e encarar a página.
o propósito
tem um conceito que amo, akai ito, o “fio vermelho do destino”, muito presente na cultura japonesa e chinesa.
essa lenda diz que os deuses amarraram em nossos mindinhos um fio vermelho, que nos liga àqueles que estamos destinados a encontrar na vida. esse fio pode emaranhar, se enroscar, até se perder. mas ele nunca se quebra.
em alguns momentos da vida, eu senti esse fio vibrar, como uma corda de violão. eu literalmente pude sentir a vibração desse som, e acho que minha sorte reside aí. o desconforto desse fio vibrando foi me guiando. eu acredito que, toda vez que estive prestes a seguir um caminho que me afasta do que no ocidente chamamos de “propósito”, você que me lê sentiu. e puxou esse fio gentilmente, criando uma onda até aqui. e eu chamei isso de sinal, de intuição, de “chamado”.
eu acredito que o chamado é literalmente as pessoas te chamando. não porque todas nós teremos um grande papel. você não sabe quando seu propósito de hoje é segurar a porta do elevador para alguém que está a caminho de uma entrevista de emprego que vai mudar o curso de sua vida, de toda a empresa e talvez de um mercado inteiro. você não sabe quando vai esquecer o guarda-chuva no lugar onde alguém vai precisar encontrar. você não sabe da grande importância das pequenas coisas que faz, enquanto se pergunta qual é seu propósito ou persegue uma ideia capitalista de que nosso motivo de estar na terra é algo além de desfrutar.
pra mim, o propósito é não saber e ouvir quando as cordas estão vibrando.
o amor
a coisa mais especial que você pode dar a alguém NÃO é seu amor, seu afeto, seu carinho. isso deveríamos espalhar como confete na terça-feira de carnaval. não regule o amor, não ache que sempre que amar alguém a dinâmica da relação está garantida. também não ache que, para sair de uma dinâmica ruim, você deve primeiro deixar de amar. e não confunda amor com a intensidade do quanto você deseja que alguém corresponda às suas expectativas (geralmente essa é uma questão com nossos queridos pais, sempre eles). amor é uma florzinha pequena que insiste em nascer em qualquer rachadura no asfalto. ao contrário do que os poetas dizem, eu não acho o amor raro. acho raro que a gente consiga parar e admirar uma florzinha que nasce no asfalto, sabe? a raridade do amor vem da raridade da nossa atenção e aceitação da brevidade da vida. qual é a coisa mais especial que você pode dar a alguém, então, se não é o amor? é o seu tempo, querida leitora. se você quer ser cautelosa, não precisa ter medo de amar. precisa ter medo de perder um final de semana inteiro esperando uma mensagem no whatsapp (pânico).
o dinheiro
uma vez, em uma constelação4, eu representei o dinheiro. por questões éticas, não vou contar tudo o que aconteceu ali. e se você não sabe o que é uma constelação, imagine que são pessoas representando elementos de uma situação difícil (geralmente pessoas, mas no caso da minha história, um conceito) para que quem está passando por essa situação possa vê-la numa outra perspectiva. só que algo muito mágico acontece e as pessoas que estão representando os elementos começam a agir de forma misteriosa, por uma força maior, mesmo que elas não saibam qual é a situação. elas vão atuando ali conforme “sentem” e eu só acredito nisso porque nas primeiras vezes, eu representei e senti coisas surpreendentes.
então podemos dizer que, por alguns minutos, eu já fui o próprio conceito de dinheiro. e vou te contar como eu me senti: eu me senti gigante. eu me senti aberta. eu me senti frustrada de estar aqui disponível e a pessoa na situação não querer vir aqui me pegar. eu queria dançar. eu abria os braços. eu tentava chamar a atenção dela. “eu estou aqui” era a frase que vinha no meu coração, mas minha boca não podia dizer, porque dinheiro não fala. eu me sentia maior que o prédio, e tão disponível como se eu estivesse apaixonada por aquela pessoa. e eu ria. ria como rimos com ternura, observando o comportamento de uma criança que ainda não entende como a vida funciona e por isso chora.
você pode pensar que esse é só um reflexo de como eu, Ananda, me sinto sobre o dinheiro, como acho que ele é. eu posso te afirmar que, por mais que nutra bons sentimentos sobre ele ocasionalmente, aqueles sentimentos nunca tinham passado por esse corpinho de 1,70. você pode achar que sou doida (concordo). que isso foi sugestionado, que nada disso existe e, se você pensa assim, eu te entendo. de uma forma ou de outra, essa experiência mudou para sempre como eu olho para um cifrão. e posso te dizer que as coisas têm sido boas por aqui.
a sorte
a sorte gosta de quem gosta dela. assim como a magia, a intuição e tudo o que é “metafísico”. ela não gosta de ser colocada à prova. ela gosta de quem sabe que ela vai chegar na hora certa, quando menos se espera. ela gosta de quem a recebe com alegria, ao invés de receber com “nossa, finalmente!”. ela gosta de quem não a tem por garantida, de quem sabe que ela pode sair pela mesma porta que entrou. a sorte definitivamente tem uma rota de fuga e foge da casa daqueles que tentam prender a sorte, dissecar a sorte, fazer sorte sintética. de certa forma, eu acredito que o contrário da sorte é a lógica, e não o azar. acho que o azar é o irmão gêmeo dela, que faz o trabalho difícil. ela é sutil, ela quer que você interprete seus sinais. ela é caprichosa e não repete roupa, vem vestida cada hora de um jeito. se ela passa por você e você não vai de mãos dadas com ela, ela vai embora. ela sempre vai embora, pra ser honesta. não existe gente sortuda, existe gente que ama a sorte. eu mesma sou obcecada por ela e, adivinha? não é muita sorte minha você estar aqui me lendo apesar de tudo?
o universo
não, com 32 anos eu não tenho um guia do funcionamento do Universo. outra pessoa também mercurial já escreveu isso5 há um tempo atrás. mas eu tenho um palpite: a verdade universal é como a luz branca. quando ela chega na terra, ela se divide em diferentes realidades, como o arco-íris é a manifestação da luz do sol sendo dividida ao passar pelas gotas da chuva. é uma propriedade do planeta terra pegar tudo o que é misterioso e certo sobre o universo e dividir/polarizar. é como se não pudéssemos nunca entender essa verdade absoluta. ela existe, só não é da nossa conta. nossa maior chance é compartilharmos nossa realidade uns com os outros. é por isso que não podemos ser felizes sozinhos. é por isso que eu preciso de outras pessoas. é porque sozinhos não damos conta da vida, e se um dia quisermos voltar pra casa, precisamos de companhia.
escrevi esse texto furtivamente, em meio as comemorações do meu aniversário, que sempre me deixa reflexiva. eu espero que ele faça sentido pra você. eu já sinto que a melhor fase da minha vida começou.
e adoraria saber o que você tem para compartilhar sobre os ensinamentos que a vida te deu nos últimos capítulos! o que poderíamos adicionar à lista?
ps: você que tem assinatura paga do Sendo Amadora: recebeu meu email com boas novas?
dias atrás dei uma aula que reverberou muito profundamente, como não imaginei que reverberaria. talvez você goste.
no Substack da Alta Presença, faremos uma Faxina na sua mente, 21 dias de emails com pequenos exercícios de limpeza mental pra terminar o ano bem.
estou obcecada com essa música.
aguardem uma edição apenas sobre “Nobody wants this”, mas enquanto isso, assistam pra análise ficar mais gostosinha.
comecei a ler “O espirito da esperança contra a sociedade do medo” e, uau.
imagem achada na internet do dia:
a do Tim Burton, porque sim.
O escorpião é um animalzinho solitário que gosta de se esconder debaixo das pedras. Ele pode ser perigoso, mas nunca é agressivo sozinho e só fará mal a alguém se for perturbado. Os astrólogos acham que o escorpião é um bom símbolo para representar os nascidos sob este signo, porque os escorpianos geralmente precisam de muito tempo sozinhos para pensar profundamente sobre as coisas que sentem.
As pessoas de Escorpião às vezes são muito quietas, tímidas e sensíveis e gostam de guardar segredos. Eles podem sentir as coisas com muita intensidade. As pessoas de Escorpião também costumam ser muito boas em ver os pontos bons e ruins das outras pessoas. O mais importante para Escorpião é a autocompreensão. Eles não têm medo de tentar coisas que outras pessoas têm medo, se isso os ajudar a aprender mais sobre si mesmos. Ao mesmo tempo, eles não gostam de ser aproveitados ou feridos, e muitos escorpianos têm um forte senso de justiça. Isso pode dificultar a vida das crianças de Escorpião se elas acharem que estão sendo punidas injustamente. As crianças de Escorpião são muitas vezes muito mais sábias e compreensivas do que as outras crianças, por isso devem sempre receber razões quando lhes dizem para fazer algo.
Muitas pessoas de Escorpião são boas em coisas que exigem reflexão e compreensão profundas, como psicologia. Alguns deles tornam-se excelentes médicos e cirurgiões, porque se interessam pelos mistérios da vida e gostam de curar.
Escorpião é um signo de água, assim como Câncer e Peixes. Se você é Escorpião, seus dons especiais são sua visão e sensibilidade, e sua força de vontade, que pode realizar qualquer coisa na vida.
Trecho de "Primeiros passos na Astrologia", de Liz Greene, 1977
leia o Caibalion, só leia.
pelo amor da deusa, não pare nunca de escrever♥️ (quero livro. impulsivamente, tentei grifar umas 5 frases)
Ah Ananda!!! Que bom ter vc aqui de volta! Que newsletter maravilhosa!!! Gracias!!!
(Não sei se tava no meu mapa, pelo menos não lembro de nenhum astrólogo ter me dito, mas minha vida melhorou significativamente aos 32, apesar de uma grande provação aos 33… Sinto que a saída final do meu retorno de Saturno, a volta para a superfície renovada pelos aprendizados pós 28 se deu aos 32… Foi uma bela idade!!! Que os seus 32, e também os anos vindouros, sejam cada vez mais deliciosos e cheios de encontros com a Sorte!)