#2 outono, fazer macarrão como quem vive os afetos e Barcelona
ou "o que tenho pensado sobre criatividade"
6 minutos de pausa pra leitura no seu dia. estou devolvendo a concentração pro seu cérebro pós-internet. de nada.
esses dias de outono tem sido bons comigo. e me trouxeram de volta à escrita.
a luz lembra um filme do Woody Allen, as noites têm um cheiro que eu reconheço como cheiro de recomeço.
estou cheia de problemas, cheia de pendências, com vários desafios empresariais. mas dizem que você sabe que está se curando quando percebe que tomou um rumo diferente do padrão que antes te guiava. e me encontro em uma postura tão diferente. eu nem perceberia a mudança da estação, antes do “burnoutinho” de 2022.
parece que estou me curando do vício em trabalho, mas talvez esse seja assunto para outro dia.
caso é que esses dias têm me inspirado. e tem me dado essa vontade de criar. me colocando para pensar no que é fazer arte. no que é estar em contato com a própria criatividade.
tenho essa teoria de que vivemos em um grande processo criativo coletivo. mas temos o privilégio de escolher quais outras mãos tecem conosco o que chamamos de realidade. pelo menos a mais próxima.
é minha versão boêmia e romantizada do "você é a soma das 5 pessoas com as quais mais convive".
diferente da família da qual somos cria, depois de adultas nossa nutrição vem das pessoas que escolhemos deixar entrar. é dessas pessoas que recebemos a matéria prima, e talvez as ferramentas com as quais construímos o que chamamos de vida.
já houve um tempo em que eu me sentia "self made", hoje a ideia de fazer ou já ter feito qualquer coisa sozinha parece uma piada.
é aqui, no campo das relações, onde eu me sinto beneficiária de uma sorte que não tem nome: eu conheço pessoas que são mundos, mundos onde é intrigante passear. pessoas criativas, no mais profundo sentido da palavra.
o universo indaga "quem sou eu?" através de nós.
não consigo encontrar algo que o ser humano crie, que não me pareça apenas um subterfúgio do universo para que ele olhe para dentro. para que o próprio universo se reconheça através dos nossos sentidos. quadros, filhos, livros, problemas. todos os desejos me soam como uma desculpa para descobrir um pouco mais do que é ser. só ser.
por isso as pessoas criativas estão sempre em ciclos de andança. giram o mundo, voltam para deixar um lastro. um trabalho solitário e relacional. no lastro (na obra) enxergamos a técnica — a melodia, o gesto do traço, o passo, a palavra, o vislumbre. no ofício da arte em si, eu vejo as almas, e talvez isso seja o melhor de conviver com artistas. ver as almas nas obras e também sair com essas grandes almas para almoçar.
“se seu sonho não te dá medo, não é grande o suficiente” uma vez eu li. eu acrescento que se seus planos não te fazem renascer constantemente, talvez não sejam de fato seus. mas isso é só meu ascendente em escorpião falando.
os encontros são o fenômeno
da mesma forma que qualquer ideia é uma desculpa para se desdobrar, toda relação, para mim, é sobre trazer uma terceira coisa ao mundo. criar, então, só pode ser um ato coletivo. é essencial escolher com quem você divide o ateliê. mais vital ainda é deixar-se ser afetada e afetar o mundo de volta.
ser quem você é permitindo sentir o que sente nesse momento. permitir o afeto, deixar-se permear pelos fenômenos e encontros. respirar aqui, suportando o caos que toda criação exige. e depois expressar e expressar e expressar. fazer macarrão como quem vive os afetos. pintar um quadro como quem volta para casa. escrever como quem reside o mundo do sonho também. rezar como quem pode olhar no olho do mistério. deixar o outro ver que você é o processo, a criadora, a criatura e, ao mesmo tempo, só uma mulher no mundo.
o gesto mais libertador
acho que o desejo de criar que esses dias de outono me trouxeram tem a ver com o desejo de ser livre & comprometida.
comprometida com o ato de expressar no mundo algo que só eu poderia expressar, porque só eu sou eu, e só eu vivo meus encontros. e livre para ser eu e viver tais esses encontros como eles vierem ser.
hoje (em minha pesquisa constante sobre o bem-viver) li sobre o que os neurocientistas chamam de "modo devaneio". o modus operandi natural do cérebro é o devaneio. nossa natureza mental é parecida com aquele estado que sentimos quando passamos um tempo olhando o mar, ou pela janela do Uber. nenhum pensamento se prende: livre. seu olhar se volta para dentro: comprometida.
eu espero que os dias de outono estejam sendo bons contigo também, leitora.
e que o ímpeto de expressar seus processos com grande liberdade tome conta de você nessa estação.
me conta como tem se sentido?
aqui tem um post que acho que pode te fazer bem hoje
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Imagens e referências do filme “Vicky Cristina Barcelona” do diretor Woody Allen, que ainda é um dos meus preferidos, estritamente pelo seu trabalho. No mundo em que vivemos, se quisermos apreciar arte em paz, teremos que constantemente separar o autor da obra. Lembre sempre de seguir seu coração, e de que você não precisa concordar comigo em tudo.
suas palavras me emocionaram nan. processo criativo é caos e deleite. ao mesmo tempo.
A liberdade e a confiança que sinto na sua "voz" é inspiradora, tranquilizadora e atenta. Obrigada pelas palavras.