#17 um homem para calar as vozes
confiar no masculino novamente é uma looonga jornada (que talvez valha a pena).
esse email pode estar longo, clique aqui para ler no navegador, caso queira.
“é preciso viver com o secso oposto. e não contra ele. exceto durante o secso”1 — uma filosofia francesa que segui até 5 anos atrás, quando terminei um namoro, abracei uma religião mais "yin"*2, descobri a codependência emocional, e comecei a trabalhar majoritariamente num universo feminino, depois de muito tempo trabalhando com homens e vivendo em meio a eles.
mergulhada em estrogênio*3 (onde encontrei o acolhimento e a proteção que eu precisava) eu esqueci como existir na presença masculina, até muito recentemente.
obs: este é um texto em primeira pessoa, de uma mulher cis e heterossexual. se você não é, e não se identificar com nada (love that for you), só se entretenha — e, digo com muito amor, não me encha o saco ♥️
1. "you are the niche"
(você é seu próprio nicho), escuto a voz grave em alto e bom áudio, no vídeo que começou a rodar sem que eu pedisse. eu discordei imediatamente e o pensamento veio na velocidade da luz "típica conclusão masculina-norte-americana-branca-hetero-classe média e blablabla".
mas como previa Dale Carnegie em seu livro "Como fazer amigos e influenciar pessoas"*4, ao se referir a mim ("you") tal homem me fisgou e assisti seus 2 centavos (de dólar) de opinião sobre branding até o fim.
precisei reconhecer que não pensamos tão diferente e, com outras palavras, ele defendia um ponto que ensino (e depois me arrependo) sobre branding e marketing. mas o protocolo diz que devo torcer o nariz para qualquer coisa que um homem tente afirmar e foi esse meu primeiro impulso.
fiquei curiosa, e confesso que entrei na egotrip. Dan Koe*5 e eu concordávamos em mais assuntos do que eu gostaria de aceitar, mas ele faz algo com isso. simples assim: ele grava, escreve, posta, expõe, empreende, lucra. repete os assuntos, aparece totalmente sem carisma, não finge paciência com o que não tem. e no momento em que o encontrei, eu estava paralisada diante das minhas opções profissionais, deixando tudo mais complexo.
é claro que tem vaidade ali, pressões sociais, e o desejo de ser percebido de uma determinada forma; eu consigo sentir. é um ser humano que vive no mesmo mundo confuso que eu, por mais que eu queira generalizar e colocar todos os homens no mesmo pote.
mas há um blend de pretensão e despretensão naquela linha de pensamento que achei agradável de acompanhar.
comecei a assistir todos os vídeos, não porque eles eram novidade, mas porque eu gostava de concordar comigo mesma através dele, admirar meu próprio cérebro (meu ego é assim, desculpe se te decepciono). era gostoso ouvir uma opinião adicional à minha. nem idêntica, nem oposta. “yes, AND”*6.
me acostumei a ter conversas mentais com esse homem e nos tornamos uma dupla de criativos, coworkers imaginários. passei a ouvir sua voz nas manhãs, nos almoços, nos treinos de musculação. algumas vezes essa voz me ajudou a calar todas as outras vozes na minha cabeça.
o pensamento simples (e escrevo isso com a melhor das intenções) é um antídoto para minha paranoia. não sei explicar.
e não, passei longe de desenvolver um crush virtual. só tinha me esquecido de como amo contemplar como a mente masculina (essa, socializada para ser o que conhecemos como “homem”) funciona. e como entendo sua dor também.
AVISO: no Sendo eu faço tudo o que posso para não oferecer conselhos não solicitados. então por mais que minha linguagem seja imperativa e convicta, saiba que o que eu mais desejo é que você fique com o que fizer sentido pra você. sei que em outros contextos, sou a professora e neles o meu trabalho é ensinar. aqui nessa newsletter, meu trabalho é criar, compartilhar, inspirar… qualquer outra coisa. então leia como quem escuta a conversa da mesa ao lado, ok? não como quem senta na primeira mesa em frente a professora.
2. esse é um assunto delicado,
mas a verdade que estou ensaiando para começando a assumir é que me dou bem entre homens e gosto disso. sei lidar com eles e sei jogar os jogos da sociedade. os piores espécimes que conheci deixaram marcas, claro, mas me deixaram mais forte*7.
aqueles menos nocivos, que são apenas… homens (e não um potencial perigo), me fazem bem. quase como se eu absorvesse deles habilidades que admiro (e muitas vezes preciso): a arrogância, o autocentramento ou uma “ingenuidade” sobre como o mundo funciona (o que no nosso mundo chamamos de "delulu"*8), característicos dessa porção da nossa espécie.
e, só aqui entre nós, toda mulher talentosa se beneficiaria de um pouco de autoconfiança masculina (percebeu? eu me auto proclamei “talentosa”).
esse texto pode soar absurdo para algumas, mas, muitas vezes, o masculino me inspira e me diverte, porque enquanto eu estou arrancando um braço pra provar que sou boa, um homem mediano já se considera merecedor de tudo — e essa é uma das maiores chaves da vida, se comportar como já merecedor de tudo, como filho do dono. "ah, mas eles não precisam". não, e esse é meu ponto.
se você está lendo essa edição, não preciso explicar o quão feminista eu posso ser. femista*9 quase. nos coloco quase superiores a qualquer homem, meio que acho que somos. mas eu seria só metade de mim sem eles. literalmente. você também.
veja, eu amo mulheres. trabalho com elas e para elas e sobre elas. e leio mulheres, compro de mulheres, apoio mulheres, penso em mulheres. infelizmente, não beijo mulheres, mas tenho certeza de que é ótimo. são 5 anos no clube da Luluzinha (ou na Barbielandia) com orgulho. porém. eu não sabia a falta que me fazia a visão simples e direta e voltada para a solução e yang*10. essa é a melhor forma de descrever sem ser cancelada: yang.
eu estava carente de polaridade, um ímã desmagnetizado, sem aderência no mundo. porque a verdade que não gosto tanto de admitir, é que eu me fortaleço perto dos homens, seja como forem.
e, embora eu ame a naturalidade de estar entre mulheres, é apenas diferente. eu amo isso. só acredito que precise de mais diversidade no meu círculo.
esse é um recorte bem específico da minha história, mas sinto que para muitas pessoas que me acompanham, essa informação é necessária para que eu “faça sentido”. então, aí está.
3. "eu quero ser feliz, ou quero que os homens sejam infelizes?"
um dia, conversando com uma amiga, me fiz essa pergunta difícil. naquele dia em específico, era a segunda opção.
no processo de ter meus direitos, minha segurança, ser tratada como igual e ser feliz, eu esqueci que meu intuito não era que eles fossem menos felizes que eu, para me vingar. no fundo (beeeeeeeeeem no fuuuuuuundo) , eu não acredito em punição, eu quero a reparação e essas são duas coisas bem diferentes.
não quero arrancar o que os homens têm para poder ter. quero ter o que é meu, o que eu quiser ter. não quero decidir em oposição a nada; quero fazer escolhas por mim.
não quero que eles fiquem sem, ou sejam diminuídos. temos um longo caminho pela frente mas, por definição (que todos, inclusive eu, parecemos esquecer frequentemente), feminismo é sobre igualdade social, econômica e política (incluindo o direito de sermos diferentes), e uma vez conquistada essa igualdade, só quero que todos possamos coexistir em paz.
4. em uma conversa com meu amigo,
e gestor de tráfego Champs, me peguei aceitando uma de suas estratégias. “concordo com você, e que ninguém escute que concordei com um homem” — brinquei. e ele respondeu sagitarianamente:
numa visão bem mística, quando eu tinha mais paciência e mais boa vontade com "os caras", eu encontrava espécimes melhores. por um tempo, achei que era a fase ("eles são melhores aos 20 antes de serem capturados pelas disputas de poder" eu pensava), mas hoje acho que o ponto em comum entre os péssimos homens que encontro aos 30, sou eu. 🤷♀️
tenho amigos que são quase impossíveis de imaginar. engraçados, inteligentes, bonitos, educados, bem sucedidos (já falei “bonitos”?) amigos que são gentis, que me buscam de carro, que me ajudam com coisas difíceis, que escutam quando aponto um comportamento machista (porque, calma, eles não são perfeitos e todos nós somos filhos do machismo), o que para mim é o mais importante de tudo. não coincidentemente, todos eles remontam de um tempo onde eu acreditava que existiam bons homens no mundo. eu entendo o motivo de ter ficado cética quanto a isso, é claro. mas esse remendo (colocar todos eles no potinho do “potencial fonte de sofrimento”) tem sido pior que o estrago (porque, no fim, quando nos protegemos da vida, nos impedimos de viver e eu sou heterossexual, e amo me relacionar, como precisei que o Champs me lembrasse ali no áudio).
tem dias em que só quero reclamar. em outros, preciso de ajuda para calar as vozes e cuidar da minha vida.
atualmente, quando estou ansiosa, e minha mente está sendo cruel (“você não faz mais que sua obrigação” “eu sabia que você não ia dar conta” “isso está longe de estar bom” “quem é você pra fazer isso?”), como você sabe que uma mente pode ser, eu coloco fones de ouvido, abro o Youtube, e escuto o mansplaining*11 do Dan Koe me dizendo que eu já tenho o que é necessário pra começar (basta querer), que posso mudar minha vida em 6 meses (se eu desaparecer), que eu posso fazer 1 milhão de dólares com um negócio digital (quando comprar seu curso) e que, só de ser essa versão mais ou menos de mim mesma, eu já sou um nicho interessante o suficiente pra você ler essa edição até o fim (talvez ele tenha acertado aqui).
ps: quando não tem um homem silenciando as milhares de mulheres neuróticas que habitam minha mente, tem house music, outro detalhe da minha vida millennial e hetero, mas disso falamos outro dia (ou não).
curadoria de homens absurdos que eu simpatizo (sem saber muito bem por quê):
"OBS: estou ciente de que provavelmente todos eles têm motivos para serem boicotados que eu desconheço e, se não têm, podem ter no futuro. mas, vamos lá, você me leu até aqui e entendeu meu ponto, certo?"
Caetano Veloso (sendo "você é burro, cara" sua obra-prima na minha opinião)
FHC (mesmo sendo de esquerda)
Pharrell Williams (i am a fashion girly)
o príncipe Harry (o casamento com a Meghan só aumentou meu crush)
Harry Styles (pensamentos impublicáveis aqui)
DARIN (♥️)
Steve Jobs (aham)
meu ex gerente, o Goma (piada interna para algumas amigas que leem essa newsletter)
Matheus Sodré (apesar de fugir desse tipo de bofe como o diabo da cruz)
Karl Lagerfeld (i am a fashion girly parte II)
Mujica (papai noel esquerdista)
John Frusciante (já ouviram ele cantando "How deep is your love"?)
Wendel Carvalho (eu sei, eu sei, mas quando olho pra ele vejo o menino que ele foi um dia)
Cazuza (nós namoramos em meus devaneios adolescentes)
meu numerólogo, o Gio (esse tem tudo pra todo mundo amar)
Kanye West (eu me envergonho muito do quanto eu simpatizo com esse, imperdoável)
Neil Gaiman (e todos os seus personagens míticos humanizados)
Tim Ferris (mais grata do que deveria)
Jorge Ben (me enrolaria fácil nos anos 80)
Ladeira (aprecio um milionário pé no chão, gente como a gente)
Tony Robbins (é o pai de todos os coaches, i'm just a coach 🎀)
Joe da série “You” (eu sou bem problemática em relação à série, e já conversei com minha analista sobre isso)
Yohji Yamamoto (i am a fashion girly parte III)
terminei mais uma vez Sex And The City, e essa música está na minha mente (a minha versão preferida dela) em looping infinito
imagem achada na internet do dia:
aparentemente, ursos tem um tipo de senso de beleza, e param pra contemplar.
#6 lençóis 400 fios, Luke Danes e não ser uma mulher extraordinária
1. uma das milhares de coisas que o burnout mudou em mim,
ainda mais bonito como imagino em francês "faut vivre avec le sexe opposé, pas contre. sauf au lit." embora tenha certeza que “Como ser uma parisiense em qualquer lugar do mundo” já tenha nascido em inglês, para o novo mundo e eu mesma tenha a edição em português — leio esse livro de tempos em tempos, e mais ainda desde que o Respectivo (meu ex namorado francês) disse que estou perdendo “my parisian charm”, também conhecido como “minha cara de c*". SACRE BLEU! a pior coisa que você pode me chamar é de simpática.
um jeito de dizer “feminina”
O estrogênio ou estrógeno é um tipo hormonal presente no organismo de homens e mulheres. Mais frequentemente produzido pelos folículos nos ovários, é parte fundamental da fertilidade da mulher.
livro que recomendo
"Sim, e ...", também conhecido como pensamento "Sim, e ...", é uma regra prática na comédia improvisada que sugere que um improvisador deve aceitar o que outro improvisador afirmou ("sim") e depois expandir essa linha de pensamento ("e"). O princípio não proíbe divergências entre os personagens dos improvisadores, mas afirma que não se deve rejeitar as premissas básicas introduzidas pelo outro, pois isso os confundiria e prejudicaria o fluxo da cena.
não estou sendo Poliana aqui; eu literalmente saí mais forte dos piores deles na minha história pessoal. e sinto muito, muito, muito por todas as mulheres que têm histórias diferentes. um dos motivos do trabalho que faço na Alta Presença ser voltado para mulheres é esse. para fazer algo pelas que não tem a sorte que eu tenho.
Nas redes sociais, "delulu" é usado para descrever pessoas que são otimistas ou idealistas de forma exagerada e irreal. O termo é associado a uma mentalidade de vida que prega que tudo acontece a favor e que os sonhos são possíveis de alcançar.
Femista é um adjetivo que se refere a alguém que defende o femismo, uma ideologia que prega a superioridade do gênero feminino sobre o masculino
outro jeito de dizer “masculina”
Mansplaining é um termo que descreve quando um homem explica algo a uma mulher de forma condescendente, presumindo que ela não entende o assunto. O termo é uma junção das palavras "man" (homem) e "splaining", uma forma informal do verbo "explain" (explicar).
eu amo estar nos bastidores e depois poder aplaudir em pé quando você estreia suas visões de mundo (desculpa a metáfora teatral *gatilho*). amiga, eu simplesmente AMO a sua escrita. e vou iniciar uma thread nesses comentários pra gerar ainda mais engajamento e alguns dos homens que gosto:
- Cazuza (eu amo ser ariana porque ele era ariano)
- Chorão (o que seria do meu trabalho se não fossem suas músicas? não sei)
- Eminem (desde os 12 anos quando colei sua foto na minha agenda)
- Obama (não necessita explicação)
- Stromae (o melhor dos melhores do mundo todo)
Ai eu AMO te ler