ultimamente, eu tenho feito um detox de conteúdo feminista. não porque eu vá deixar de ser (e acreditar na igualdade social, econômica e política entre todos nós, e na necessidade de que haja justiça antes de igualdade), mas porque, em um dado momento, precisamos largar a proteção que os livros e teorias trazem e ir pro campo da realidade. e a minha realidade é que sou uma mulher hétero, uma lover girl, que jamais vai parar de desejar uma relação, mesmo quando não precisa, não compensa e não está na moda.
e um ponto importante dessa minha decisão é que eu estava me colocando cada vez mais em um pedestal em relação aos homens. entenda: eu tenho uma ótima autoestima em muitos lugares. eu não sou o tipo de pessoa que tem a necessidade de se ver acima deles, porque eu fui criada para achar que já estou acima. e, quanto mais amadureço e mais me desenvolvo, mais fácil fica me ver nesse lugar.
mas esse lugar, querida leitora, é um lugar solitário. é o topo de uma montanha onde ninguém me fere, mas ninguém aprecia a vista comigo também. e eu sou profundamente convencida de que é maravilhoso desfrutar a vida, mas é essencialmente valioso poder ser testemunhada — embora essa parte seja difícil pra mim.
foi em 2019 que eu descobri meu vício em trabalho e minha codependência emocional atípica. entendi esse padrão de me isolar como forma de não sentir demais, me envolver demais e me vulnerabilizar. mas o que importa são os aprendizados, não os diagnósticos, e minha cura passou por olhar para os lugares onde parecia que eu me valorizava, mas não via meu valor de verdade.
se eu realmente acreditava na potência do meu trabalho, eu trabalharia tanto assim?
eu evitaria tanto ser vista se não acreditasse que, no fundo, tem algo de errado comigo?
se eu confiasse na minha capacidade de cuidar de mim mesma de verdade, eu precisaria fugir tanto da minha vulnerabilidade?
novamente, em muitos lugares, meu amor por mim é tremendo. eu tenho um ego que podemos comparar ao do Kanye West (devidamente terapeutizada, latina e medicada). mas meu amor por mim também era tremendamente condicional: ele não existia caso eu não estivesse mantendo a exata imagem monolítica que eu tinha de mim e do que seria ser eu — uma eu que não precisava de nada, de ninguém e que estava acima das necessidades humanas de pertencimento.
bom, abrir essa porta foi brutal. e também libertador. como é frequente na vida, olhar para a parte escura e triste também foi bonito. teve beleza em poder construir uma estima real por quem eu fui, sou e talvez venha a ser.
e hoje quero dividir com você algumas coisas que foram me tornando mais encarnada na minha própria vida, realmente apaixonada por ser quem eu posso ser.
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