#32 | quando eu não sei o que fazer
eu faço listas. e esse já é o primeiro item dessa lista.
tenho duas opiniões conflitantes sobre “síndrome de impostora”. de um lado, acho que é um fenômeno que acontece porque temos a ilusão de que os outros (aqueles que estão realizando coisas e conquistando espaço) se sentem “prontos” e têm “tudo resolvido”. inventamos em nossa cabeça que eles estão onde estão porque tiveram certeza de onde mirar, e nós, que estamos dando passos sem ter certeza, somos fraudes. superestimamos a competência dos outros e a autoconfiança deles, porque não estamos tão próximos pra saber que eles têm ou tiveram tanto medo quanto nós. que, em muitos lugares, eles também estão “entendendo” a vida.
do outro lado, eu acho saudável. você sentir que não está completamente pronta, certa, que ainda tem muito a evoluir, mesmo quando já está dando passos concretos, é um sinal de que você começou na hora certa. o mundo está cheio de gente que não se questiona, que não sabe se levar a sério se não for a sério demais. sou do time que realmente acredita que, se você está se sentindo pronta pra começar, está começando tarde demais. mas essa é apenas a minha filosofia (que já causou muita glória e muito estrago).
tudo isso pra dizer que descobri em mim esse “sentimento”. de ser uma farsa. tem algo que estive tentando esconder, com medo de que descobrissem a minha fachada: quando olho com verdade pra minha vida hoje, sinto informar, mas estou em transição. outra vez. e eu detesto isso. sempre tive pouquíssima paciência pra gente que vive “recomeçando”, que vive tudo como um ensaio, sabe? e é porque a Grande Mãe é sábia, mas sacana, que eu tenho aprendido essa lição: nem sempre é uma opção. em algumas temporadas da vida, você vai construir coisas impermanentes apenas pra segurar o rojão do dia, e fatalmente terá que começar alguma outra coisa em breve. por vezes, essa segunda coisa também não será muito sólida. e isso é bonito porque significa que você saiu da ilusão de que dá pra parar a vida enquanto se cura, se reconhece ou se desfaz de algo. talvez essa seja a ilusão que mais dói perder: a ilusão de controle sobre o tempo.
eu desejei do fundo do meu coração que alguma das flechas que atirei nos últimos tempos acertasse em um alvo que se tornaria meu “novo mundo”. é assim que me sinto, soltando flechas e mais flechas que, pela minha competência de fazer do limão uma margarita, viram resultado — e resultado gostoso. mas, no meu centro, eu sei que não se vive de tequila, e que eu precisaria ir além dos cítricos e plantar, com paciência, novas mudas, de novos frutos. e eu tenho o maior amor do mundo pelo que leva tempo pra florescer — talvez uma das minhas maiores qualidades. mas como me falta paciência para esses tempos em que ainda não tenho meu pedaço de terra. não aguento viver nômade de ideias, de desejos, pulando de um lado para o próximo. eu não quero descompromisso infinito travestido de liberdade. pra mim, liberdade é escolher ao que quero pertencer.
por vezes, também quis muito não ver o que vejo. me iludir um pouco. tratar como bom o suficiente aquilo que sei que ainda não é. tem gente que constrói uma vida toda em cima de uma ideia posta apenas pra não ter que questionar mais nada e, pense o que quiser, eu queria essa graça pra mim. sossegar em um canto, em um trabalho, em uma relação, em uma religião, em uma disposição dos móveis da sala. mas a alma vem, indubitável, e me arrasta contra minha vontade. minha mente, à parte a tudo, faz o que ela pode fazer: mantém meu sustento, minha vida material. porque perdida é uma coisa. perdida e quebrada é outra. perdida, quebrada, vulnerável e triste é uma outra com a qual não consigo nem imaginar.
então chegamos aqui. onde não posso desver o que vejo. ainda não tenho uma casa firme do outro lado do oceano. nadei de braçadas, cheguei nessa margem, exausta dormi por um tempo, mas não morri na praia. por hora, deixo você com as estratégias — e talvez os maus costumes — que nasceram nesse período “entre mundos” (o ódio que tenho quando penso na quantidade de vezes que minha analista usou esse termo).
quando eu não sei o que fazer:
1. monto mini estruturas com coisas que posso controlar
escolho as coisas da rotina que posso definir, e confesso que passo tempo demais pensando nelas. aperfeiçoando um sistema no notion, minha rotina de treinos ou checklists (como esse que você está lendo).
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