[sendo breve] você não é menos corajosa por buscar um pouquinho de conforto
5 minutos preciosos
eu tenho medo de avião. do bicho. não exatamente de estar nele, ou dele cair, mas do fato dele existir. eu acho absurda a ideia de uma máquina que voa.
quando penso que tenho medo do bicho e ainda assim aceito ser engolida e habitar por horas suas entranhas, penso no quanto o desejo é maior que o medo. ou talvez sejam da mesma família, o sangue de um animando as veias do outro.
do outro lado tem a experiência fora de mim e fora do que conheço. a outra cidade, a pessoa da saudade, o estrangeiro.
eu miro o outro lado da experiência mais absurda, e me apaixono de imediato.
o que tem do outro lado é maior do que me assusta dentro.
por isso coloco fones de ouvido, aperto o cinto, respiro fundo e me permito voar na barriga desse bicho de metal. uma vez no alto, passadas as turbulências, até aprecio a vista.
(essa é minha música de decolagem)
voar me ensinou a ter medo, ir com medo, e ser gentil comigo enquanto vou.
não acho que um dia esse medo vai deixar de existir, mas a primeira vez que voei pelo mar e atravessei meio mundo, foi sozinha.
na hora do check-in, eu — que valorizava tanto "não precisar de muita coisa", que tenho a lua em capricórnio — vi minhas mãos no totem tomando uma decisão muito antes da cabeça conseguir protestar: comprar um assento na classe Premium Economy. de última hora. um pouco de conforto, de privacidade, de mimo.
eu não tinha percebido, mas em momento algum eu tinha me imaginado na classe econômica. não que eu tivesse comprado a primeira classe. mas eu simplesmente não produzi essa imagem no meu cérebro ou concebi a ideia. como se parte de mim tivesse tramado isso, me enganado com meus milhões de papeis impressos e organizados em pastinhas para passar pela imigração, com minha mala meticulosamente feita para ser leve e razoável. naquele segundo eu não fui nada razoável, só imprimi meu cartão de embarque e me dirigi à Starbucks.
um vinho branco depois, escolho assistir Casablanca enquanto cruzo o oceano (outro medo meu) em direção a Paris. "We will always have Paris". acordo no final do filme, grata pelos 4 dígitos à mais que doem no bolso, mas caem como um cobertor quentinho no coração.
eu não me imaginei vivendo essa experiência de outro jeito, algo em mim não quis viver meio sonho, algo bom em mim quis me dar exatamente o que eu mereço. quando penso nisso hoje e em toda minha história, me emociono. é bom saber que eu sei me amar assim.
o que levei dessa experiência e divido hoje com você, cara leitora:
eu tenho permissão para me assegurar de que estou confortável enquanto enfrento meus medos. nem tudo precisa ser difícil, desde que eu não precise provar nada para ninguém. tem coisas que só se tornarão uma batalha se assim eu escolher.
este é só um texto curto. escrevi em um aeroporto, um olho no painel, outro no cursor piscando. são meus textos preferidos, esses que saem breves. espero que você consiga ler tudo o que tem dentro deles.
se eu pudesse definir o Sendo Amadora em um termo, diria que essa newsletter é um shot de autoamor
o Sendo é um lugar para te encorajar a ser mais do que o seu trabalho e suas ocupações habituais. eu te ofereço uma conversa franca sobre o que significa ser feliz enquanto mulher no mundo de hoje, e compartilho as minhas estratégias de bem viver.
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Nos vemos do outro lado!
Caramba, como eu me vi neste título... Passou um filme na minha mente, uma série de eventos em que eu me vi ensaiando alguns atoa e que eu me intitulei de irresponsável, preguiçosa, folgada...só porque no meio do caos o meu corpo e a minha mente pedia descanso/pausa... Eu não sabia fazer absolutamente nada dentro do conforto...tudo precisava ser um furacão para no final eu me ver como a heroína que salvou o projeto pq atingiu as metas. Isso é passado agora! 💛
Eu me vi completa aqui. E a simplicidade do texto, mas ao mesmo tempo tão profundo, tocou meu ♥️
Estou numa fase onde tenho que ter coragem, mesmo com muito medo. E eles dançam juntos enquanto algo dentro de mim diz "você está no caminho certo" e sentir os dois faz parte do processo.