quero que você pense naquele seu medo mais primal.
sabe <aquele>? não o medo óbvio, da parte de cima da gaveta. não os medos justificáveis e compreensíveis sobre sua segurança. aquele outro, que está no fundo, amassado, mas ocupando espaço. esse que só você conhece, que não vê a luz do sol (e nem o consultório do psicólogo), mas que te acompanha.
sim, esse mesmo. coloque em cima da mesa. abra o medo, desamasse, espalhe bem suas pontas.
agora fique de pé diante dele, se permita estar acima desse medo dessa vez. vire-o de cabeça para baixo, e em 180º e também do avesso. com cuidado. cerre um pouco os olhos, deixe a vista embaçar. olhe para seu medo com outro olhar.
dê uns passinhos para trás, mas sem deixar que ele saia do seu campo de visão. vá se afastando, se afastando um pouco mais. nesse caminho, observe por outras perspectivas. um pouco mais longe, e à direita. um tiquinho para a esquerda no próximo passo retrógrado.
e quando estiver a uma distância quase confortável do medo, respire fundo e comece a refletir com calma: suponhamos (numa realidade bem distante e paralela) que esse medo se concretize. o que de pior aconteceria na sequência?
é uma pergunta e tanto, seja corajosa.
comece a andar em círculos pelo cômodo, olhando levemente para cima, gesticulando com as mãos. siga fazendo essa pergunta "o que de pior pode acontecer?" (é essencial falar em voz alta e parecer meio louca nesse momento, não contenha sua loucura sagrada).
eu vou primeiro: o medo que estava no fundinho da minha gaveta era assim:
“tenho medo de perder o timing das coisas”
quando o estiquei na mesa vi que “tenho medo de perder o timing das coisas, porque já perdi antes, já me atrasei antes"
cerrando os olhos, com a vista embaçada, meu medo tem a forma de "a qualquer momento algo pode me tirar tudo, por isso não posso perder o timing das coisas"
e ao me afastar, percebi: “tenho medo de perder o timing das coisas, porque já fiz isso antes, e como acredito que tenho poucas chances, me culpei por ter perdido tempo. e a forma como me puni para tentar 'expiar' a minha culpa foi cruel demais, fez do meu mundo interior um lugar difícil de existir.”
mais um passo e “expiar minha culpa foi um processo que me levou a crises de ansiedade e sinto que não tenho forças para lidar com isso de novo”.
eis a importância de ver as coisas desconfortáveis desde uma distância confortável.
agora, refletindo: ok, se eu perder o timing e voltar a ter crises de ansiedade, o que pode acontecer de pior?
eu ter ainda menos forças de fazer o que precisa ser feito, e ficar ainda mais “para trás”
tenho medo que ficando para trás, as pessoas me esqueçam, e isso me afete profissionalmente
se eu perder a segurança material que conquistei com a minha profissão, é possível que tenha que me reinventar em uma nova
esse é o meu pior cenário diante desse medo específico: ter que começar de novo em uma nova área. não que esse seja o pior cenário do universo (minha mente consegue ir mais fundo), mas estou satisfeita com esse resultado. eu consigo trabalhar com esse medo.
dê um tempinho e faça esse exercício também, e depois volte aqui para ler o restante dessa experiência.
dissecando o medo
agora que você identificou o pior cenário, etapa por etapa, você pode estar se sentindo ainda mais assustada. pode ser que nomear seus monstros dê ainda mais medo deles.
mas eu quero te contar a parte transformadora desse exercício: perceba que, ao observar o medo com mais distância, eu identifico as camadas do medo. ele deixa de ser uma atmosfera tenebrosa e passa a ser <algo>.
na história de terror que eu me conto aqui, eu não fracasso e vou diretamente pro CLT. primeiro eu perco o timing, perco oportunidades. então, o que eu poderia fazer criar múltiplas oportunidades, várias formas de me conectar com meu trabalho independente da minha presença? talvez construir meu trabalho em mais lugares, ter vários movimentos, fortalecer minha comunidade-eu consigo bolar um pequeno plano aqui, antes da catástrofe.
e ainda assim, se o meu verdadeiro medo acontecer (porque, no nível mais profundo, meu medo é entrar em crise porque acredito que não suportarei passar por aquele agudo psicológico novamente) como posso cuidar de mim?
essa é a hora de lembrar que não sou a mesma de antes, que tenho recursos, apoio, que posso sempre pedir ajuda.
faça esse exercício quando puder, e me conte como foi. eu não espero que você tenha uma iluminação logo na primeira experiência, e não, esse não é um exercício fácil. levei anos aprimorando esse e outros artifícios para lidar com o que me paralisa.
sei que esse exercício pode ser um tanto desafiador. mas meu ascendente em escorpião não pode deixar de te encorajar a olhar no fundo dos olhos do medo e ver que você tem opções.
é como um diagnóstico. precisamos passar do nível do "estou me sentindo mal" para o "dói precisamente aqui quando eu respiro". quanto antes dermos nomes, forma, e percebemos as nuances do medo, mais cedo poderemos fazer o que nos cabe: controlar o controlável, e esquecer do que não podemos controlar.
na maior parte do tempo, aquilo que você teme é um letreiro em neon apontando a direção do que te faria crescer e ser mais livre, caso você tenha a ousadia de atravessar. e eu definitivamente te encorajo a tomar esse caminho, com cuidado (e planejamento), mas com coragem.
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Nos vemos do outro lado!
Que prática incrível Nans, obrigado por dar vida a uma nova forma de olhar o medo fundamental ❤️
Gracias por mais essa pérola! Gracias pela sua profundidade e generosidade!
“se o meu verdadeiro medo acontecer (porque, no nível mais profundo, meu medo é entrar em crise porque acredito que não suportarei passar por aquele agudo psicológico novamente) como posso cuidar de mim?
essa é a hora de lembrar que não sou a mesma de antes, que tenho recursos, apoio, que posso sempre pedir ajuda.”
Essa aqui acolheu o coração com a precisão de agulha de acumpuntura! Gracias!