#24 me blindar da negatividade e manter a esperança
não podemos ficar paradas olhando nossas feridas para sempre. mas as vezes é necessário olhar mais uma vez.
quando a raiva finalmente tomou seu lugar dentro de mim, eu chorei. um choro forte, uma raiva santa. abri as portas da sacada, cheguei ao parapeito e gritei pro alto: "EU JÁ ENTENDI!! O QUE MAIS VOCÊ QUER DE MIM??".
uma das coisas que aprendi estudando sobre codependência*1 é que, um dia, você precisa concordar com a sua dor. não apenas saber. não apenas aceitar. é quase como parar de brigar com ela. entrar em um acordo. "eu te deixo existir no passado, você me deixa existir no presente".
um codependente atípico (oi) não é do tipo que “lambe a ferida”. é do tipo que continua sangrando, esperando que um dia ela estanque. ele ignora. por isso, é preciso concordar com ela. "sim, você existe". "sim, eu precisei de coisas que não recebi".
o próximo passo é concordar com o fato de que, na realidade, ninguém poderia ter te dado aquilo, por mais que você quisesse. talvez eles até quisessem ter sido diferentes, mas eles eram como podiam ser. e essa é sua história. isso é a integração de tudo. "sim, eu precisei de coisas que não recebi. sim, isso me dói. e essa é minha história. nunca poderia ter acontecido diferente."
esse email pode estar longo, clique aqui para ler no navegador, caso queira.
naquele dia, eu me sentia pronta para concordar com o fato de que "nunca poderia ter sido diferente". mas os planos eram outros para mim.
porque eu tinha 29 anos e ainda não tinha terminado de chorar tudo o que precisava. o costume de não lamber as feridas. e então eu estava ali, deitada no tapete havia 40 minutos, deixando as lágrimas escorrerem pelo lado do meu rosto e entrarem em minhas orelhas. a mente repassando, sem consentimento, cenas onde os adultos da minha vida falharam comigo. plenamente ciente de que eles fariam melhor se pudessem. ainda assim, com a criança doendo no meu colo de mulher adulta.
foi assim que eu tive o estalo. era o ponto alto do meu Retorno de Saturno*2. e, de repente, aquilo me pareceu um ato cruel de um deus amoral brincando com a minha vida. porque aquele estado de consciência bruta, que me fez ver com tanta clareza a raiz de todos os meus problemas da época, estava me tirando toda a vontade de seguir no que eu tinha como normalidade. acordar, trabalhar, andar pela cidade, voltar pra casa, ver um filme. a "normalidade" me parecia uma coisa distante, uma ficção científica perto de um mundo amorfo de memórias e atmosferas de outros tempos que, às vezes, me tomava e me arrancava do aqui-e-agora.
por isso, eu exigi que ele me mostrasse, de uma vez por todas, o que mais queria de mim — mas com clareza dessa vez. o que faltava? queria que eu visse minha própria dor? vista. queria que eu humanizasse as memórias de família? feito. que eu parasse de culpá-los e ficasse ao lado deles, no meu lugar, ou onde quer que fosse? eu estava disposta.
eu tinha entendido tudo, mas o Saturno que passava pela minha casa 4 queria que eu sentisse tudo também. desgraçado.
o que mais me irritava era saber o quanto eu precisava daquilo. que aquela realidade que construí — quase como uma resposta à negligência e à dor — precisava parar de fazer sentido. aquela ultra independência, aquele desapego transformado em estilo de vida. por isso, o meu "normal" parecia irreal, e o mundo como eu conhecia não girava mais. ele estava quebrado. sempre esteve.
o que me irrita hoje é que sou grata. daqui a mais ou menos 28 anos, ele me paga.
mas essa edição é sobre não olharmos para nossas feridas para sempre. depois de muita troca de curativo, reabilitação e repouso, estou pronta para construir um mundo novo para chamar de realidade.
a maioria das minhas metas de 2025 são sobras de 2024. e não estou nem um pouquinho incomodada com isso. 2024 foi o ano em que coloquei a última pá de terra em uma versão da minha vida onde nada mais podia florescer. nada mais viria dali. isso já foi trabalho o suficiente, então quem se importa se eu não tirei a carta de motorista, se não pintei o apartamento, se não pratiquei tênis? eu não.
e foi por isso que minhas "intenções de ano novo" ganharam um novo sentido para mim. meu Notion já está cheio de projetos, to-do lists e metas — do jeitinho que ficaram no dia 31 de dezembro, eu simplesmente as arrastei para janeiro. este ano, tenho uma lista enxuta e objetiva de subjetividades. agora, cabe à nova eu entender como isso se torna projeto, como isso se concretiza. não estou com pressa, mas estou atenta.
a lista consiste em:
permanecer alienada: aproveitar o melhor que a vida moderna me dá e escapar deliberadamente "da realidade", em busca de me manter acreditando no melhor.
estar presente na vida das minhas amigas (e amigos) tanto quanto eu puder, virtual e presencialmente. essa é “a família que o coração escolheu”
a Ananda do velho testamento: ser essa, que é minha versão preferida. sem tempo, irmão.
trabalhar na internet até poder não trabalhar nela, se eu quiser: essa é uma nova grande meta de vida.
hoje, quero te contar sobre a primeira: me blindar da negatividade e manter a esperança.
eu preciso me distrair das realidades alheias. não estou conseguindo levar a minha a sério, porque todas as outras à minha volta são tão cativantes, tão urgentes, tão outras.
sabe a sua pequena realidade? o que existe dentro do seu mundinho, da sua cabeça. o que eu chamo de campo lunar, aquilo que somos quando ninguém vê. na minha percepção, é desse lugar que brota a realidade e, como eu contei no começo, estou construindo uma nova.
me sinto porosa, plástica. um vazio receptivo e necessário para a criação. mas esqueci que, nessa hora, precisamos ser muito cuidadosas com o que permeia nosso mundo.
recentemente, percebi que nunca tinha sido submetida a um nível tão grande de negatividade (a palavra é essa) em toda a minha vida. e estou falando de uma maneira bem concreta.
minha família é muito religiosa, positiva e quase escapista. embora a linguagem seja dramática, no fundo, a crença de que existe algo maior que cuida de nós e que nada acontece por acaso é a base. quando criança, eu passei muito tempo sozinha com meus livros e minhas músicas. por mais introspectiva e melancólica que eu possa ser as vezes, meu gosto para a arte sempre teve um tom esperançoso e vivo.
sempre trabalhei em funções que não me permitiam ficar muito tempo conectada ao que acontecia fora do presente. e, em muitos deles, tive a dádiva do tédio. cresci em uma realidade onde tudo o que viesse era lucro. eu não tinha medo de perder muita coisa porque não tinha muita coisa para perder. entende? eu simplesmente não vivia nessa frequência, pela dinâmica do meu dia a dia.
enquanto todo mundo estava criando um vício em redes sociais e sendo influenciado por musas fitness*3, eu passava seis horas sem celular trabalhando — e mais cinco sem celular bebendo por aí.
até que me tornei infoprodutora, "dona" do meu tempo
e fui apresentada ao conceito de "dores e desejos do público-alvo"*4.
essa foi a espiral por onde entrei — e de onde, hoje, estou lutando para sair.
não me entenda mal. é claro que, para ajudar bem minhas alunas, preciso compreender seus problemas. isso é só mais um dos ossos do ofício que me sustenta. mas acho que errei a mão. e, sinceramente, a culpa é minha.
a partir do momento em que entendi que os problemas que minhas alunas enfrentam vêm, em sua grande maioria, de uma questão de autoestima, problema que nunca tive (a relação entre valor pessoal e desempenho me pega de uma forma muito mais suave), eu congelei. uma dimensão diferente, que eu nunca tinha experimentado, se abriu diante de mim. um campo para que eu analisasse e sobrepensasse. me apaixonei pelo problema mais uma vez.
e eu empatizei muito mais do que fui feita para empatizar. foi além da solidariedade. sou escorpiônica demais para chegar tão perto da ferida do outro. virginiana demais para ver um impasse e não tentar resolver. e, nesse espaço fértil que meu campo vibracional se tornou, esqueci que essa realidade não é a minha. eu me confundi. eu parei de ver muitas das possibilidades que antes eram a natureza da vida para mim.
de novo, falo do mundo de dentro.
a verdade é que as coisas nunca foram fáceis, mas sempre deram certo. muitos milagres aconteceram na minha vida. muitas sortes. muitas manifestações. agora entendo que, para viver nesse campo de infinitas possibilidades, meu espaço interno também precisava ser um campo de infinitas possibilidades. eu acreditava em todas elas. e estar alheia ao que acontecia no mundo — tendo mais energia, inclusive, para estar mais atenta às pessoas próximas a mim — era o que fazia com que eu visse o mundo como eu via, amasse a vida e fosse amada de volta por ela.

certa vez, um colega de faculdade (umbandista) me perguntou: "seu namorado é calminho, né?" (ele não me conhecia tão bem, muito menos meu então namorado). sim, meu ex-namorado da época era um poço de calma (ou uma mola encolhida). quando questionei o porquê da pergunta, ele me disse: "porque você está num tempo que não é seu. você não é tão lenta assim".
na época, não entendi nada. hoje, entendo tudo.
por isso, a primeira e maior das minhas metas é voltar ao tempo que é meu, ao kairós*5. nesses poucos meses que foram o começo do ano (janeiro me pareceu um trimestre inteiro), já eliminei muita coisa da minha vida, pelo simples motivo de "baixo astral". isso inclui um dos meus crushes preferidos, um pisciano que acredita que vivemos em uma simulação e que o mundo não tem salvação. eu não posso trocar fluídos com essa crença, me desculpe.
uma pequena lista de providências para me manter alienada tanto quanto possível:
primeira coisa na manhã é ouvir pelo menos uma música. nada tranquilo. Fred Again talvez, ou reggaeton.
unfollow em qualquer conteúdo que eu, como marketeira, sei que tem um componente de gatilho emocional acionando dor (não porque eu ache errado, apenas porque não preciso disso nesse momento).
não ler comentários, não ler comentários, não ler comentários.
limitar o quanto me aprofundo nos temas que sou curiosa — essa semana, optei por um livro que conta os bastidores de um economista, não um de análise sobre economia. eu não consigo ser totalmente "fútil" (entre muitas aspas), mas decidi trabalhar a partir de quem eu sou.
entrar em obsessões úteis: corrida, o álbum novo do Bad Bunny, brechós em São Paulo, café da manhã coreano, edição de vídeos.
focar em como me sinto sobre as coisas e não no que penso sobre elas.
em uma conversa, eu reclamo e escuto reclamações, mas desengajo quando o assunto toma um tom de impotência diante da questão. e são poucas as pessoas que podem sentar comigo para reclamar da vida, conto nos dedos.
tenho olhado muito para o que estou pensando. e estou naquela etapa da positividade tóxica em que você "cancela" o pensamento intrusivo. mas tenho anos de análise o suficiente para saber fazer isso sem evitar minhas emoções. uma emoção é o que é. um pensamento sempre pode ser outro.
meu novo mantra é: "<isso> como está sendo nesse momento, me faz feliz? estou sendo quem eu quero ser aqui?".
notícias do mundo? o básico. só me interessam os fatos e o que consigo absorver deles. tem muito mais acontecendo do que é saudável para eu entender.
estou me forçando a tomar decisões dentro de 1h30 e a diminuir muito a quantidade de informações que busco para baseá-las. minha intuição está sendo o suficiente.
todo esse movimento não é para me distanciar das pessoas e do mundo. pelo contrário. é para me conectar mais a tudo, por outra via. a via do que é bonito, mesmo na coisa mais simples. quero me relacionar com a vida além da falta e do que não é possível, porque quando eu deliberadamente escolho gostar do que vejo, nem preciso fugir da realidade como hoje estou precisando.
"misery loves company". é tão fácil criarmos conexão através das nossas dores e traumas... mas eu quero, de verdade, me conectar através da riqueza e da alegria. compartilhar o contentamento.
se, como profissional, eu sei curar a dor, quero, como mulher, saber encorajar a potência e o desejo.
olá, amadora
sabe quando você tem um problema com qualquer aparelho, e as instruções são "tirar da tomada por 3 minutos"? eu sempre achei essa instrução curiosa. tem uma máquina, tem uma tomada, tem energia sendo fornecida ininterruptamente. por que desconectar resolve o problema?
escrevo agora com um choro preso no peito. um choro que é 80% cansaço — um cansaço bom — e 20% a constatação dolorosa de que as mudanças que eu queria fazer com tempo & sossego vão acontecer com o carro andando. em alta velocidade. tudo bem, por um lado, esse carro ficou encostado por tempo demais. mas uma virginiana tem direito de chorar quando as coisas saem menos que perfeitas? posso deixar o cortisol sair através das lágrimas?
além de tudo, sou dos rituais. e percebi que não poderia ritualizar essas mudanças com o cuidado que gostaria. lembrei que sou bruxa, e que nossos altares tiveram que ficar escondidos em caixas empoeiradas em fundos falsos por muito tempo. eu sobrevivo com pequenos rituais, ok. não posso fazer um grande réveillon, mas posso me tirar da tomada por uns dias.
por isso, estou às pressas adiantando trabalho e cuidando de pendências. resolvi, impulsivamente, que a única forma de me desligar seria ir para o Rio. o meu Rio. para onde, intuitivamente, sempre corro quando preciso "resetar", criar uma pausa e mudar uma forma de agir.
os próximos dias são de areia e mate gelado, casa de amiga, passear com cachorro. minha skin preferida sempre vai ser minha skin carioca. te escrevo de lá!
e, a propósito, nosso dia oficial da newsletter vai passar a ser quinta-feira. essa semana te escrevo duas vezes, porque eu mesma me perdi nos meus prazos. o reset vem na hora certa.
até semana que vem. se mora em São Paulo, cheque a previsão do tempo antes de sair de casa e não esqueça o protetor solar.
mudei minha bio do instagram e quero saber como vocês se sentem agora que eu declarei meu novo posicionamentode blogueira rs
fui assistir “Nosferatu” pelo figurino e fiquei apaixonada de novo por ir ao cinema. de tempos em tempos essa paixão reacende.
fiquei muito impactada com isso aqui:
Em novembro de 2021, a marca de cosméticos Lush saiu das redes sociais. Isso foi o que eles disseram na época:
"Nós não pediríamos aos nossos clientes que nos encontrassem em um beco escuro e perigoso — mas algumas plataformas de redes sociais estão começando a parecer lugares onde ninguém deveria ser incentivado a ir. Algo precisa mudar. Esperamos que as plataformas introduzam diretrizes fortes de boas práticas e que regulamentações internacionais sejam transformadas em lei. Mas não podemos esperar.
Nos sentimos obrigados a tomar nossa própria ação para proteger nossos clientes dos danos e da manipulação que podem experimentar ao tentar se conectar conosco nas redes sociais."
Infelizmente, isso parece mais relevante do que nunca hoje.
#11 metas de ano novo com mais leveza
aquele silêncio que precede a queima dos fogos de artifício reinava. eu lavava o rosto imaginando as pessoas em suas casas, preparando tudo para aqueles 10 segundos. existe uma tensão nesses minutos, uma mudança de energia. escolho um pijama bonito, de linho, recém lavado e com cheiro de que secou ao sol. coloco um robe já com a máscara de dormir na testa, e sento na sacada para esperar a meia noite, são 23:58.
a codependência emocional pode ser compreendida como um padrão de comportamento no qual uma pessoa permite que as atitudes e emoções de outra afetem profundamente seu bem-estar, ao ponto de desenvolver uma necessidade compulsiva de controlar ou gerir essas atitudes.
O retorno de Saturno é um evento astrológico que ocorre quando o planeta Saturno retorna à posição que ocupava no momento do nascimento de uma pessoa. Este acontecimento marca uma fase de transição para a vida adulta, e pode ser um momento de autoavaliação e crescimento pessoal.
eu demorei MUITO para saber quem era a Pugliese.
As dores e desejos do cliente são os problemas, preocupações, anseios e expectativas que os consumidores têm em relação a um produto, serviço ou empresa. Identificar as dores do cliente é importante para que as empresas possam oferecer soluções mais relevantes e adaptadas às necessidades dos seus clientes.
O tempo Kairós é o momento oportuno, o instante em que algo especial acontece. É uma experiência temporal que valoriza a qualidade do tempo vivido, em vez de se focar na quantidade.
Gratidão por se compartilhar conosco!!! 💕
Vc falou cm em cada milímetro de palavra muilet, soroso, socoso, socorro! Amando esse sendoamadora. A propósito toda vez que vejo a Carrie braiedshow, lembro de ti, e me inspiro ainda mais em ti! Gratidão pelo teu servir a ser!