#31 | amar o amor e ser apaixonada pelo desapego
eu sempre quis ter dois namorados mesmo.
1. eu amo o amor.
essa bolha de luz verde atrás do esterno, não o romântico. e por muitos anos achei que não era capaz de amar, e que isso que sinto e senti em tantas ocasiões diferentes era algum tipo de bênção divina, um sopro, algum tipo de manifestação do universo dentro de mim. acontece que eu estava absolutamente certa — e errada também. eu não era incapaz de amar, eu era incapaz de me apegar a outra pessoa. e isso que eu sentia era mesmo uma manifestação divina, e o amor é exatamente isso.
2. ser uma mulher analisada é voltar a pensar nos pais frequentemente.
eu sei que meu primeiro amor foi meu pai, sendo ele uma porta fechada na qual eu batia de tempos em tempos, só recebendo uma frestinha de intimidade. nunca pude entrar ali. por mistérios da vida, meu mecanismo de defesa não foi continuar batendo pra sempre naquela porta, ou tentar entrar pela janela. eu saí do recinto. eu deixei a casa, o bairro, a cidade. eu peguei um ônibus e demorei muito pra voltar. eu voltei diversas vezes, e as portas eram sempre outras. mas, a partir do momento que percebia que elas não se abririam pra mim, eu lembrava: “ah, é! tem mais vida lá fora” — e pegava novamente o próximo ônibus com destino ao desapego.
3. uma única vez eu insisti.
eu precisava ver o que acontecia caso eu continuasse tentando entrar. eu precisava tirar a prova, e entrei como uma bola de demolição*1 (sim, estou citando Miley Cyrus) e entendi aquela música. e esse relacionamento me mostrou que, quando um homem está fechado, tem um motivo. e como é tentador encontrar um cômodo quebrado que você tem certeza que quer restaurar. no momento em que finalmente consegui me ver do lado de dentro, quando aquele homem finalmente se abriu pra mim e me deixou ver tudo o que ele aprendeu a esconder do mundo, eu já sentia muita falta do meu outro namorado. nos anos em que fugi do apego, eu me apaixonei perdidamente por não me apegar. quando o que eu mais queria aconteceu, eu queria que outra coisa acontecesse. e então eu deixei aquela relação que batalhei por anos pra fazer acontecer com as seguintes palavras bêbadas de vinho: eu preciso pensar só em mim e em ninguém mais por um tempo.*2
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