#22 como dar conta de tudo — final.
tudo é muita coisa. tudo é completamente desnecessário.
se você serve uma taça de vinho e bebe ela todinha, bebeu 100% de uma taça de vinho. uma taça representa 1/4 de uma garrafa, mas ela tem uma totalidade em si mesma. quando o objetivo de beber é a felicidade (a celebração de algo, o relaxamento no final de um dia ou o prazer de desfrutar um vinho), não focamos em terminar a garrafa. isso é irrelevante. podemos até terminar, mas isso não está em nossa mente, porque temos outro interesse. quando o nosso objetivo é mais “destrutivo”, aí sim, ver o fundo vazio de uma ou algumas garrafas de vinho se faz necessário. o álcool deixa de ser uma substância com valor emocional positivo; ele passa a ser “útil” a algo: ele tem que nos entorpecer.
qual é o nosso objetivo real quando queremos dar conta de tudo?
se você tem 20% da sua energia para dar a algo e dá esses 20%, você deu tudo o que tinha. essa newsletter poderia acabar aqui. mas estamos na terceira e última edição sobre “como dar conta de tudo”, e eu quis dividir esse tema em três partes para mergulharmos em cada uma delas.
como: parte I (clique para ler)
o que eu faço para conseguir… fazer o que eu faço.
dar conta: parte II (clique para ler)
como sou meticulosa com o que se torna da minha conta.
de tudo: parte III e final (esta edição)
o que importa ou não, porque “tudo” é coisa demais.
na edição anterior, expliquei que foco no essencial. realmente costumo dar conta de tudo o que me proponho, mas sou cuidadosa ao escolher o que coloco no meu campo de atenção. um dos meus segredos para lidar com a vida é, simplesmente, me importar com menos coisas do que a maioria das pessoas.
mas há uma outra camada nessa estratégia: eu defino os parâmetros para minha vida nos meus próprios termos e sou teimosíssima quanto a isso.
esse email pode estar longo, clique aqui para ler no navegador, caso queira.
uma coisa interessante que a astrologia me trouxe foi a percepção sistêmica da vida. ela me ajudou a conceitualizar a conexão de todas as coisas. eu já desconfiava que o universo de fora estava intrinsecamente conectado ao universo de dentro e, para mim, os anos como estudante desse conhecimento foram anos de estudo sobre a relação entre tudo.
o meu “tudo” se reduz a 12 áreas da vida, o que, para uma pessoa caótica e criativa como eu, é um alívio.
cada casa de um mapa astral representa um âmbito da vida, e cada um de nós vive cada âmbito de uma forma diferente. estou solta no espaço com um mapa para algo que me espera no fim da integração de todas as partes de mim: o devir*1, aquilo que ainda me tornarei.
a palavra-chave é essa: integração.
em português claro, minha formação como astróloga me ajudou a entender que reconhecer que não temos como colocar energia igualmente em todas as áreas da vida é integridade.
a técnica
para cada uma das 12 áreas da vida, eu defino o que é sucesso. eu determino o que significa para mim (e para hoje) a nota 10 e a nota 0 antes de me sujeitar ao teste estilo “de zero a dez, qual nota você daria para _____”. sou eu quem dita o que é o mínimo e o máximo. se tenho alguém para culpar pelas expectativas exageradas, essa pessoa sou eu. venho trabalhando para que o 10 não seja tão inatingível e o 0 não seja tão “não faz mais que sua obrigação.” para isso também serve a terapia: uma auditoria honesta sobre por que queremos que tudo seja tanto, o tempo todo.
em alguns pontos sensíveis da minha vida, o mínimo é um tanto alto — e, por vezes, inegociável — porque sei que, sem essa estrutura firme, o resto vai ruir. mas há outras áreas da vida, áreas que as pessoas à minha volta valorizam muito, e eu não dou a mínima. não é minha história, não é meu rolê, não é do meu interesse, e não vai se tornar até que, naturalmente, se torne.
você vai me ver surtando até encontrar o sapato perfeito para uma ocasião, mas indo de cara lavada, zero make. vai me ver meticulosamente desenhando uma campanha de tráfego pago porque quero um retorno sobre o investimento de 6, e não “cinco vírgula alguma coisa,” e vai me ver atrasando três meses da conta de gás.
em um determinado momento da vida adulta, eu cansei de tentar me importar com tudo e comecei a buscar parar (ainda estou no processo) de me comparar com quem se importa com o que eu não me importo. por isso, criei um sistema “bom o suficiente” para que aquilo que não chama naturalmente minha atenção não fique abandonado. colocar as contas no débito automático e ter minhas automações no calendário do Notion são exemplos disso. mas, acima de tudo, sem me sentir “menos” por precisar desses truques.
ser objetiva ao avaliar a própria vida é imprescindível.
uma pessoa pode ser completamente feliz sem metade das suas conquistas. você pode estar extremamente triste sentada nos privilégios que outras pessoas supõem ser a salvação da vida delas. não adianta olhar para os lados buscando respostas.
veja, quando precisamos avaliar se algo anda bem ou vai mal, estamos fazendo uma comparação. precisamos de um ponto de partida para uma avaliação. se eu quero, por exemplo, saber se meus níveis hormonais estão saudáveis, preciso saber o que seria saudável primeiro, dentro da minha realidade (minha idade, meus hábitos, etc). se quero saber se uma venda foi boa, preciso saber o que seria uma venda ruim, de acordo com o meu trabalho.
mas, quando pensamos sobre nossas vidas, raramente temos um dado objetivo para medir nosso desempenho. porque a vida, por mais que a gente tente muito (e tentamos), não tem essa objetividade. não podemos medir as áreas da vida partindo apenas de como nos sentimos sobre elas, porque sentimentos são confusos.
a comparação injusta
não tem como passar por esse tema sem mencionar que, no geral, quando queremos “ser mais” ,“produzir mais,” estamos nos comparando a um homem-branco-de-classe-média/alta-norte-americano. e por que afirmo isso? porque os estudos são feitos com base neles. eles escrevem os livros de produtividade que lemos. eles se tornam os cientistas que fazem as tais pesquisas. eles são os designers da “sociedade de desempenho.”*2 e é claro que queremos fazer parte desse mundo. queremos ter poder e ser livres, queremos ter escolhas, queremos estar seguras. quem não gostaria? então, primeiramente, acho que precisamos nos perdoar por, de vez em quando, desejar viver nos padrões “macho alpha,” mesmo sem perceber.
nos comparamos também a outras mulheres, mas, de maneira geral, nos comparamos às mulheres que, por algum motivo, conseguem navegar bem nesse mundo tão masculino. as mulheres que têm seu papel definido dentro desse cenário: a mãe, a chefe, a sexy, a nerd, a louca. até mesmo a louca está ali com seu lugar garantido.
eu sou uma dessas mulheres, em alguns contextos chamadas de “filhas do pai.”*3 eu me dou bem entre eles. e por isso me dediquei a ensinar caminhos para que mulheres que não foram tão estimuladas a dominar o mundo concreto pudessem também desenvolver essa habilidade, sem abrir mão de outras qualidades que aprendi com as “filhas da mãe.”*4
do outro lado, estão as mulheres desencaixadas, as que são múltiplas. as que não vão encontrar um lugar definido, ou, quando encontrarem, vão sentir que estão traindo as outras partes de si. eu sou uma dessas também. eu carrego esse paradoxo de deslizar elegantemente pelo patriarcado enquanto partes de mim queimam e não entendem nada.
e daí veio a minha necessidade de reajustar os meus parâmetros. não é porque sei caminhar no compasso de tempo de máquina de uma sociedade patriarcal que QUERO me tornar uma engrenagem dentro dessa máquina. e não é porque uma parte minha é sensível, misteriosa e indecifrável que vou deixar essa potência minguar por não saber colocá-la no mundo objetivamente.
a regra é: sempre definir o sucesso e o fracasso nos meus próprios termos, & ser extra generosa comigo mesma nesse processo.
ser generosa comigo mesma é minha subversão; é assim que saboto o sistema dentro dele. não importa quantas vozes sabotadoras tentem me dizer que meus resultados estão abaixo da média. hoje, olhando o horizonte enquanto tomava um cafezinho, me permiti sentir orgulho dos lugares que conquistei, mesmo sabendo que ainda há muito mais a ser conquistado.
a sociedade sempre vai mostrar que posso ser mais. e eu concordo. mas isso não significa que o que sou hoje é descartável.
esse é um convite para que você faça o mesmo. mesmo sabendo que ainda pode melhorar muito, não olhe para o lugar onde está como se ele não tivesse valor. se você está aqui me lendo, eu tenho certeza de que enfrentou seus próprios dragões — e muita gente nem imagina quais foram. viva em harmonia entre o que é e o que ainda será.
meus essenciais inegociáveis e meus ideais hoje
embora eu tenha uma lista específica para cada área da vida, tenho meus focos atuais e vou deixar registrado aqui como exemplo e inspiração.
saúde
o essencial inegociável hoje na minha saúde é o sono, porque ele regula muitos outros pontos importantes. tem sido uma longa jornada, e mais uma vez estou construindo a minha vida em volta dessa prioridade.
o essencial:
pelo menos 7 horas de sono diárias;
tentar dormir sempre no mesmo horário, com uma flexibilidade de 2h mais cedo ou mais tarde (no máximo 3 dias na semana);
se precisar mudar horários, mudar gradualmente (antigamente eu mudava no susto);
dormir no escuro tanto quanto possível.
em adição, tenho outros hábitos que contribuem para o meu sono e minha saúde no geral, sendo o mais importante a musculação.
o ideal:
comer 2h antes de dormir;
desconectar completamente de telas 2h antes de dormir também;
acordar sem despertador, quando o corpo estiver pronto (tenho feito isso nos últimos 2 meses com resultados muito bons, mas só é possível porque durmo cedo e tenho certo controle sobre minha rotina);
dormir no silêncio.
finanças
estou focada em aprender a gerenciar melhor o meu dinheiro e recuperar minha reserva de emergência (que foi usada quando tive burnout e covid, se provando indispensável para a vida).
o essencial:
pagar todos os meus essenciais (e nessa lista estão inclusos muitos itens que outras pessoas considerariam supérfluos);
colocar em uma caixinha da Nbank com liquidez diária um valor todos os meses (qualquer valor possível);
manter os gastos sempre abaixo do budget que determinei para eles.
o ideal:
tirar um valor fixo e guardar todos os meses;
fazer o dobro do que gasto (o oposto de viver com 50% do que ganho).
uma curiosidade: eu absolutamente não me importo em pagar juros, porque, quando você empreende, tempo é dinheiro. desde que eu “atrase” uma conta sabiamente (muitas vezes meu dinheiro pessoal vai para a Firma) e aquilo retorne um valor maior do que os juros, acho uma troca justa. se já paguei a mais pelo atraso de uma conta, me considero livre de culpa.
comunidade
um dos valores que descobri recentemente, e ainda estou trabalhando para incluir mais na minha vida, é o senso de comunidade: fazer parte de algo além da minha família e amigos próximos. ainda estou em processo de investigação, mas quero compartilhar o que tenho até aqui.
o essencial:
estar conectada a grupos com interesses em comum regularmente;
comprar em negócios locais (sou bairrista);
manter relações superficiais saudáveis, mas também me conectar de verdade (pense nos amigos de amigos: não super próximos, mas que permitem um interesse genuíno sem a obrigação de formar um laço).
o ideal:
trabalho voluntário em algo que acredito fazer diferença (estou me planejando para ações ligadas à construção de casas populares);
encontrar um terceiro espaço onde eu possa não apenas sentir esse pertencimento, mas colaborar de alguma forma;
criar um terceiro espaço (acho que mais do que um ideal, isso é o começo de um novo propósito para o meu trabalho na Alta Presença).
resumindo: minha preocupação maior não é que tudo esteja equilibrado, mas que tudo esteja harmônico.
imagine uma música onde todas as notas tocam na mesma intensidade e no mesmo tempo. não seria uma música, certo? isso seria barulho. poderia até ter equilíbrio — as notas tocadas em equanimidade, uma estrutura e até um “por quê” — mas o que faz os sons serem apreciados como melodia é a harmonia das diferenças entre cada nota, o espaço entre elas, o vazio também.
harmonia é coexistência. é pegar o que é imperfeito, o que se difere dos seus pares, e ainda assim trazer sentido. o que faz sentido é aquilo que faz sentir. eu quero uma vida cheia de sensações; quero estar nesse planeta terra experimentando sentimentos e emoções e compondo ativamente com tudo isso. isso, para mim, é muito mais importante do que “dar conta” de tudo na mesma proporção.
olá amadoras!
como vai o espírito natalino por aí?
nesse momento estou de fones de ouvido, lo-fi no talo, para me concentrar. recebo a visita da criadora — mamãe— e se vocês acham que falo bastante, deviam conhecer a peça. eu sou só a criatura rs. a única forma de conseguir trabalhar é me enfiar no escritório-caverna, enquanto ela teima em lavar minha louça, cantando Guilherme Arantes (cheeia de chaarme, um desejo enooorme 🎵).
estou sentindo uma energia diferente nesse dezembro (pode ser a quantidade fenomenal de remédios que tomei). ainda não tenho uma opinião formada sobre o que foi 2024, mas estou compilando um recap para as duas últimas newsletters desse ano.
e só um lembrete de leve (vou explicar tudo em detalhes em breve), mas em 2025 o Sendo Amadora voltará a receber assinaturas e conteúdo fechado ultra especial, para quem quiser se tornar VIP.
nos vemos semana que vem! bebam bastante água e usem protetor solar.
eu estou emocionalmente investida DEMAIS no caso do Luigi Mangione. usei uma sessão inteira de análise apenas para discorrer sobre. Vênus em Libra descontroladíssima, e com razão. nenhuma outra parte do meu mapa argumenta contra minha paixão.
estava eu em minha cama, já um pouco afetada pelo óleo de CBD (com thc), quando tive uma crise de riso que não tinha há anos. quanto mais eu ria sozinha, mais eu achava a cena engraçada. tudo porque vi esse tiktok. eu imediatamente deixei o celular cair ao lado da cama, e não tinha força para levantar e pegar, porque o riso fez meu abdomen doer. eu queria pegar o celular para fechar o aplicativo, porque a musiquinha estava me fazendo rir ainda mais. a Ynara sugeriu que eu começasse um quadro sobre histórias engraçadas que me ocorrem quando tomo CBD.
achado da semana:
Devir é um conceito filosófico que se refere às mudanças que as coisas sofrem. É um substantivo masculino que significa o processo de transformações efetivas que todos os seres passam.
O devir é um movimento permanente que cria, transforma e modifica tudo o que existe
A sociedade do desempenho é um conceito desenvolvido pelo filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, e também conhecida como sociedade do cansaço. Este conceito descreve uma sociedade que valoriza a eficiência, o sucesso e a constante atividade, e que se caracteriza por uma cobrança constante pela alta performance.
No livro "Jornada da Heroína" de Maureen Murdock, o arquétipo da "Filha do Pai" é uma das fases descritas na jornada interna da heroína. Esse conceito refere-se à mulher que busca aprovação e reconhecimento do mundo patriarcal, geralmente simbolizado pela figura do pai ou de uma autoridade masculina. Essa busca está ligada à ideia de que o valor dela depende de sua capacidade de cumprir as expectativas do mundo externo, muitas vezes em detrimento de suas próprias necessidades ou da conexão com o feminino interior.
A "Filha da Mãe" (ainda em “Jornada da Heroína”) é um arquétipo que reflete o vínculo profundo e complexo entre a heroína e o aspecto materno, representado pela mãe real ou pelo arquétipo do feminino coletivo. Essa fase explora tanto a conexão quanto os desafios que surgem nessa relação.
o que eu admiro em você é essa capacidade de corte afiado. você se propõe a olhar pra um lado e cumpre, o ruído externo é apenas ruído. eu sei o quanto de trabalho que você faz para ter leveza nisso e acho importante frisar. mas também acho importante que você saiba que, pra alguém que luta diariamente com o medo de desagradar (e ser presa, você sabe😂), sempre penso em você quando preciso desse corte e tem funcionado muito.
e ah: a história do CBD e a imagem da criadora cantando Guilherme Arantes são cenas icônicas demais pra ficarem nos bastidores! ahahahaha
"parar de me comparar com quem se importa com o que eu não me importo" 🤌✨